Carta
de uma sogra para a nora
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Querida filha... "Esta carta é a que qualquer sogra poderia dirigir à sua nora, se tivesse coragem suficiente para escancarar o coração... Não lhe vou contar nada de novo, mas que importa? Também não são notícia as trivialidades que nós, as mulheres, costumamos contar umas às outras: << Como estão as crianças? Como vão as coisas por aí? Que vai fazer hoje? Posso ajudá-la?... , etc.>> E, no entanto, são o suporte natural dessa convivência cheia de pormenores de carinho, própria das pessoas que se apreciam.
"Comecei estas linhas tratando-a por filha, um
nome que talvez não lhe devesse dar. Seria uma bobagem chamar-lhe
filha, pela simples razão de que <
"A sua chegada à nossa família
significou uma confirmação das possibilidades que o carinho
nos oferece. Porque o verdadeiro afeto é como uma janela aberta,
através da qual se renova a atmosfera da nossa vida e se enche
de luz a cotidianidade que nos traz presos ao dia-a-dia: a casa, os filhos,
o trabalho, o escritório, o descanso e a diversão. Que seria
de tudo isso se não estivesse iluminado pela luz do amor, se não
se oxigenasse com a pura novidade do apreço e da estima que deve
unir as pessoas?
"Que seria de você, de mim e de toda a
humanidade se, no fundo da nossa existência, não ardesse
a chama da convivência e da dedicação? Se você
chegasse à sua casa de esposa e não houvesse crianças
ou, pelo menos, a esperança de converter em realidade, quanto antes,
esse projeto de que o amor transborde? Que seriam para nós, mulheres
casadas, essas quatro paredes do lar sem a presença de um marido
por quem esperar, de quem cuidar, de quem queixar-se quando deixa as luzes
acesas ou livros e papéis espalhados pela casa? A que ficaria reduzida
a família se, em lugar do afeto, reinasse nela o egoísmo?;
se o bebê que chora no berço não soubesse que a mãe
virá logo, movida por essa misteriosa mola que funciona sempre
e a todas as horas?; se os filhos que chegam do colégio não
encontrassem a mamãe sorridente, com a comida preparada e todo
o seu tempo livre para eles? Que seria de nós sem esses amigos
com os quais compartilhamos parte da nossa intimidade, com quem saímos
para tomar alguma coisa, para jogar um squash ou para ter uma conversa
sobre temas importantes que nos ajudam a melhorar? Que seria, enfim, de
qualquer marido ou esposa que vagueasse como um sonâmbulo pela tensa
e escura incerteza da incompreensão conjugal?
"Além de recebermos o sol e o ar puro
do carinho autêntico através da simbólica janela do
amor, é claro que também damos do nosso carinho. A começar
pelo olhar - é a primeira coisa que fazemos ao abeirar-nos da janela:
olhar! Um olhar que, como espelho da alma, deve ser a promessa de tudo
o que estamos dispostos a dar.
"Mas, por falar em noras, permita-me contar-lhe
que, certa vez, narrei a história de Rute a uma amiga; a sua filha
era recém-casada, e tinha problemas com a sogra. Poucos dias depois,
tornei a encontrá-la e, consciente de que a Palavra de Deus tem
força própria e faz milagres quando não bloqueamos
a sua ação, perguntei-lhe como estava a filha. A senhora
começou a rir com um ar triste.
- "Falei-lhe da história de Rute e disse-lhe que até se pode chegar a gostar da sogra - comentou-me. - "E o que foi que a sua filha respondeu? - aventurei-me a perguntar..
.
- "Que quem pensa isso deve ter batido a cabeça quando era criança...
"O caso é verídico. O que não
parece tão certo é que seja tão inevitável
assim <
Não os ver unicamente através
do papel que representam na família ou na sociedade, não
julgá-los pelas suas circunstâncias atuais. Nessa longa lista
de pessoas que poderíamos isolar do emaranhado das suas respectivas
vidas, figurariam: as sogras difíceis, os colegas com quem não
nos damos bem, alguns doentes excessivamente exigentes, idosos com problemas
de comportamento, os chefes coléricos...
Contemplar essas pessoas
como pessoas é começar a compreender que todos precisamos
de um pouco mais de amor. As vezes, esse amor será simplesmente
rezar pela pessoa necessitada. Outras... Mas por que lhe vou repetir tudo
isto? Nós, as mulheres, avançamos constantemente no amor,
a partir da nossa própria família.
"Rute era uma boa nora que tinha, além
de uma excelente sogra chamada Noemi, um coeficiente de luz interior que
lhe permitia compreender por que não se devem desprezar os vínculos
impostos pelas circunstâncias. Existem para nos enriquecer!
"Querida nora ideal, tenho que terminar estas
linhas. Obrigada por tudo. Conte comigo. Mas, por favor, continue a ajudar-nos.
Porque a sua juventude e até a sua inexperiência, a força
do seu entusiasmo e a sua dedicação à fascinante
e árdua tarefa de construir uma família, tudo isso é
sempre um exemplo para nós, um livro aberto que nos conta a história
do mundo. Uma história de amor para crianças de todas as
idades, que enternece acima de tudo o coração dos avós.
Fonte: Luz María de la Fuente é mãe de família numerosa, co-autora do livro "Aprender a envelhecer" e do livro "A Sogra (e a Nora) Ideal" |